O ensaio visual e sonoro proposto busca valorizar modos diferenciados para se habitar casas que não apenas aqueles pautados em uma morada familiar e enraizada. A abordagem artística, de 2022, se edificou com base em experiências pessoais de moradias transitórias na cidade de Paris (França). Diante de minhas limitações enquanto estudante estrangeira, vivia à deriva pela cidade em busca de residências possíveis. O conceito de “casa-resistência”, cerne da investigação artística, abarcou experiências transitórias para se pensar outros modos de permanência nos espaços domésticos.
A marcha das mulheres indígenas reúne anualmente, na capital do país, diversas etnias com o objetivo de defender os direitos indígenas. Os ensaios fotográficos propostos aqui buscaram fortalecer a potência das mulheres indígenas como protetoras da natureza e dos povos originários. Guardiãs das florestas e das águas, elas nos ensinam sobre resistência, coletividade e amor à terra, e que a revolução começa com uma pequena semente. Fotografá-las é fazer uma semeadura com imagens, uma forma de germinar e florescer sementes para refletir sobre o planeta que queremos deixar para as gerações futuras.
Realizado em 2013, o presente ensaio se constitui de uma sucessão de vistas da janela de um apartamento na cidade de Paris com o intuito de expor pequenas narrativas cotidianas. Entre quatro paredes, a fresta para o exterior torna visível o retrato da cidade ao rés-do-chão, onde se faz a vida de todo dia. Semelhante a uma tela de cinema, a janela enquadrou a experiência mundana em pleno movimento: crianças brincando, vizinhos se esbarrando na calçada, pessoas partindo, outras apenas andando à deriva.

Cada fotógrafa, ao apontar sua câmera para a cidade, cria paisagens singulares edificadas em uma percepção subjetiva do espaço urbano. Experenciar lugares emerge da escolha do que fotografar e de como fotografar. Em minhas andanças como fotógrafa, procurei afirmar minha presença localizada: onde estou e o que me sensibiliza. Enquanto caminho à deriva pela cidade, vou decompondo-a e recompondo-a de um outro modo. As fotografias aqui reunidas são resquícios de caminhadas aleatórias e despretensiosas.
A uma distância mínima
Os ensaios fotográficos apresentados propõem contextos narrativos que evocam o mundo pessoal de uma protagonista feminina, se atentando para as inúmeras possibilidades estéticas e imaginativas manifestas em suas identidades subjetivas, aquela que as diferencia e que as torna únicas. Em uma narrativa ficcional, cada personagem tem um mundo singular que lhe é próprio e que a identifica. As imagens fotográficas buscam desvendar esses universos singulares a partir de atravessamentos entre suas histórias de vida e uma poética visual ancorada nos detalhes e nos pequenos gestos ordinários.



